Acabou o recreio! Você que já se divertiu aos montes com Stranger Things precisa, agora, de um choque de realidade.
A ficção é capaz de nos contar histórias leves e encantadoras, como também as mais escabrosas, absurdas e cruéis. Neste último caso, geralmente ficamos aflitos, tristes, pensativos... depois, conversamos com os amiguinhos e desabafamos: “Nossa, o Daniel Day Lewis come o pão que o diabo amassou, hein?! Que filme pesado! Que atuação!”. Então, com o passar das horas ou dos dias, há uma espécie de naturalização e consequente alívio sobre aquilo que se viu.
Esse alívio dificilmente vai acontecer quando você assistir à Making a Murderer, série documental da Netflix.
Sem contar muito para não estragar sua experiência (segure sua onda e não saia antes descobrindo tudo sobre a série no Google, é sério!), Making a Murderer conta a história de Steven Avery, um americano de Wiscosin que, por meio de um exame de DNA, prova sua inocência após 18 anos preso por um crime de agressão sexual. O fato toma repercussão nos EUA. Então, quando está prestes a receber uma indenização do governo por tudo que passou, Avery se torna o principal suspeito de um novo crime: o assassinato de Teresa Halback, uma fotógrafa de 25 anos.
Em 10 episódios de aproximadamente 1 hora cada, a série registra 10 anos da vida de Steven Avery, sua família e demais envolvidos, mostrando julgamentos, entrevistas, depoimentos e, especialmente, as contradições sobre os fatos apresentados. Uma gama riquíssima de personagens é vista, de pessoas de extrema simplicidade a verdadeiros psicopatas agindo em nome da lei.
A sensação é de estar em um bizarro, deprimente e angustiante pesadelo judicial e criminal, um pesadelo que não se encerra.
Infelizmente, não será possível falar sobre a atuação do Daniel Day Lewis ao final, pois ali tudo é real.
•A série tem o elenco mirim mais carismático que você viu (e talvez vá ver) em anos;
•Stranger Things é repleta de personagens deliciosamente estereotipados: pais ausentes; pais desequilibrados; o policial alcoólatra e herói; o menino popular, a menina insegura e o esquisitão – e respectivo triângulo amoroso entre eles; as crianças que praticam bullying e seus alvos, os protagonistas; um vilão de cabelo branco; dentre outros;
•As referências a alguns dos filmes mais legais dos anos 80 estão lá, de Goonies a ET, de Conta Comigo a Poltergeist;
•Clima de mistério, suspense e terror remetem às coisas mais divertidas das adaptações de obras do Stephen King para o cinema;
•Tem a Winona Ryder finalmente fazendo algo relevante e como protagonista, após anos de punição não declarada de Hollywood ao episódio em que foi flagrada roubando em lojas de luxo dos EUA;
•Trilha sonora das mais legais... Television, Bowie, Moby (este, em momento emoção)... e toca Should I Stay Or Should I Go sempre!
•Sentimento constante de nostalgia para quem chegou ou já passou dos 30 anos. É impossível não se identificar com um tempo em que tudo o que importava era sair de bicicleta sem rumo certo, gravar fitas cassetes com suas músicas favoritas, relembrar dos laços de amizade que, até então, seriam eternos, vivenciar o primeiro amor... além disso tudo, você tem o prazer de relembrar como era possível viver feliz sem um smartphone sempre por perto;
•Esta primeira temporada tem apenas 8 episódios, o que fará você anular sua vida social por pouco tempo. Ou, então, sobrará mais tempo pra continuar escravizado pelas suas outras 9 séries favoritas.
O que é ser homem para você? Ter poder e dinheiro? Transar com muitas mulheres ao longo da vida ou, então, mentir sobre isso a outros homens? Casar e ter filhos, de preferência homens? Então, ensinar a esses meninos como serem verdadeiros homens?
Mais um documentário fundamental e disponível na netflix, The Mask You Live In, de 2015, fala sobre essas perguntas e vai além, trazendo um panorama sobre a “crise dos meninos” nos EUA e os efeitos devastadores da dita “cultura do macho” para a sociedade.
Por meio do relato de experiências vividas por crianças, jovens e adultos, e da análise de psicólogos, educadores e estudiosos do assunto, The Mask You Live In conta sobre a perpetuação dos modelos de comportamento e gênero, de como ensinamos nossos meninos a serem homens. “Seja um homem” é classificada por um dos entrevistados como uma das frases mais destrutivas da nossa cultura. Sobre esse contexto, o filme denuncia com veemência a responsabilidade de pais, escolas, da indústria do entretenimento (cultura dos games, das celebridades e da música rap americana como exemplos) e do mundo dos esportes (e seus treinadores, que desde muito cedo, doutrinam meninos à competitividade, violência e repressão de qualquer manifestação de fragilidade).
Ensina-se já nos primeiros 6 anos de vida, fase em que especialistas apontam como a que mais determina o adulto que seremos, como se deve neutralizar emoções e hierarquizar qualquer tipo de relação pelo domínio e subjugação do outro. Logo no início do filme, isso é exemplificado por um dos educadores entrevistados com a seguinte situação:
“Entre em qualquer playground dos EUA, onde crianças brincam alegremente. Pergunte a elas ‘Quem é a mulherzinha aqui?’, e dois meninos vão começar a se apontar, ou todos apontarão um único menino, que acabará brigando com todos ou então voltará para a casa chorando.”
Esse comportamento acaba se perpetuando em uma cultura que estimula insegurança sobre a masculinidade, fazendo com que esta tenha que ser provada o tempo todo. Uma cultura que cria, geração após geração, homens que odeiam mulheres. Homens que, plenamente convictos do que estão fazendo, matam 50 pessoas em uma boate gay. Isso liga o filme, de uma certa maneira, a outro documentário, She’s Beautiful When She’s Angry, que aborda a necessária luta feminista diante dessa cultura que estimula e molda inimigos.
Uma série de casos de bullying, trotes violentos, estupros e assassinatos em massa são citados ao longo do documentário como consequências do que se instituiu ser homem na América. Alcoolismo e abuso de outras drogas são quase institucionalizados como comportamento. O altíssimo índice de tentativas e de suicídios consumados é outro triste dado revelado por The Mask. Meninos que não se encaixam, que sofrem abusos e que são educados para não falar sobre isso acabam interrompendo suas vidas ainda na adolescência.
Mesmo diante de um cenário devastador, conclui-se The Mask You Live In com olhar otimista, apresentando uma série de iniciativas e projetos de educadores que estão combatendo esse aspecto cultural tão enraizado, estimulando diálogo, compartilhamento de experiências e a livre expressão entre homens, desde quando crianças até a idade adulta.
O filme também cobra a responsabilidade de cada um de nós em expandir o que é ser homem, tanto para nós mesmos, quanto para os meninos que estamos criando. Não agir sobre isso e, ainda por cima, minimizar a dor do outro, nos torna, de alguma forma, cúmplices de massacres como os de Orlando, e dos abusos, estupros e suicídios de cada dia.
Daqueles filmes mais relevantes pela urgência do tema do que pela qualidade cinematográfica em si, She’s Beautiful When She’s Angry, de 2014, é um documentário que conta a história de luta das feministas nos EUA dos anos 60 e 70.
Por meio de depoimentos de várias mulheres responsáveis pelo momento mais efervescente dos movimentos de liberação feminina, o filme revela como essa luta foi responsável por transformar o mundo, com conquistas que, muitas vezes, em nossa santa ignorância, não fazemos ideia de que só existem até hoje graças à radicalização da luta, graças a essas mulheres que viveram a causa em completa entrega.
Há vários trechos relevantes de discursos e reflexões. Porém, o filme perde um pouco de sua força dramática ao preferir ser um grande painel, escolhendo narrar os fatos por muitos olhares (o que é louvável em um documentário), mas deixando de se aprofundar nas histórias pessoais das personagens. Talvez essa escolha tenha a ver com o fato de que, realmente, a causa feminista é, em si, a grande personagem da história.
É interessante observar, também, como esse movimento foi rechaçado, inclusive, pelos homens que lutavam ao lado das mesmas mulheres nas causas de esquerda. Ao falarem por si mesmas, tomando a frente dos discursos, foram hostilizadas, ameaçadas de estupro e morte. Outro ponto importante abordado pelo documentário são os conflitos gerados pelo desafio de se agregar, dentro de uma causa ampla, suas importantes particularidades: as necessidades das mulheres negras e das lésbicas feministas, por exemplo, dentro de um grande movimento.
O documentário causa impacto ao revelar que, ao mesmo tempo em que se lutava pelo direito à assistência de saúde, a métodos contraceptivos e à legalização do aborto, havia um terço da população feminina de Porto Rico sendo esterilizada. Para carolas, coxinhas e machistas que costumam cagar opinião sobre o movimento, entender que essas mesmas mulheres também lutavam pelo direito à maternidade é um belo tapa na cara.
Durantes os depoimentos, as palavras ódio e fúria são repetidas inúmeras vezes, reforçando que tudo o que foi conquistado não existiria sem esses sentimentos e que, em uma sociedade sufocantemente patriarcal, nada viria por meio de atos pacifistas e suas pombas brancas. Foi preciso desafiar, expor, mobilizar, fazer greve e lutar.
O filme também lembra a todos que essa luta deve ser contínua, que o atual retrocesso visto nas legislações de diversos países mostra que um direito conquistado sempre pode ser tomado de volta. Em tempos bicudos como os de hoje, com casos cada vez mais revoltantes de misoginia, abuso e violência, entender o feminismo para apoiar suas causas ou, pelo menos, não sair falando besteira em rede social, é urgente. Para isso, assistir à She’s Beautiful When She’s Angry é um belo primeiro passo.
Talvez você conheça a nova da Ariana Grande, acredita que a Adele mais uma vez impressionou (mas tem medo de que o próximo álbum seja outra repetição, mais um de seus belos muros de lamentações) e sabe que o disco da Beyoncé vai estar na lista de melhores do ano de meio mundo de publicações. Todas elas têm grandes méritos, é inegável. Mas a SalaFlita vem, por meio dest post, sugerir que você conheça um outro tipo de cantora: aquelas meninas que, desde muito cedo, abraçaram uma guitarra e, hoje, são alguns dos nomes mais interessantes e promissores do rock’n’roll, aquele rock com ruído e distorção, o tipo de som que não depende de rótulos como “diva”, nem leva álbuns aos mais vendidos da Billboard (um dia levou, lá no início dos anos 90). Se já não conhece, preste atenção nestes 3 novos nomes femininos do rock:
Courtney Barnett
Fenômeno vindo da Austrália, Courtney chamou a atenção internacional na música em 2015, com o lançamento de seu primeiro disco, Sometimes I Sit and Think, And Sometimes I Just Sit, isso após ter feito parte de algumas bandas na Austrália, como guitarrista, e também após o lançamento de 2 EPs já como artista solo. Courtney faz um som low-fi, distorcido, com letras autocríticas e também sobre assuntos mundanos. Anda tocando nos principais festivais do mundo, e tem show marcado para novembro no Brasil. Ótimas canções, despojamento e o olhar perdidão vêm fazendo muita gente compará-la a Kurt Cobain... SalaFlita acha que não é pra tanto, mas tem ouvido muito esse som. Melhor você conferir e tirar suas conclusões.
Deap Vally
Duo americano formado por Lindsey Troy e Julie Edwards (opa, então o post deveria ser “4 novas minas no rock...”). Erros de soma à parte, o Deap Vally faz um som com pegada de blues e rock alternativo. Lembra um pouco Kills, White Stripes, com vocal da Peaches... tem, até agora, um álbum de estúdio, Sistrionix, de 2013. Som bacanudo, recomendadíssimo.
Ellie Rowsell (Wolf Alice)
Ellie Rowsell está à frente da Wolf Alice, bandinha norte-americana bem maneira de indie rock noventista, bem mais sujo ao vivo do que nos discos. Ellie é guitarrista, vocalista e compositora da Wolf, que já tem lançado dois EPs: Blush EP e Creature Songs; e um disco cheio, My Love is Cool, de 2015. Dá um play no link abaixo pra conferir o som da banda.
Se você gostou de Courtney Barnett, Deap Vally e Wolf Alice, também vai gostar de: Tiago Iorc (brincadeira).
“Se é verdade que apenas podemos viver uma pequena parte daquilo que há dentro de nós, o que acontece com todo o resto?”. Esta é uma das primeiras frases do filme Trem Noturno para Lisboa, de 2013, adaptado do best-seller homônimo de Pascal Mercier (pseudônimo do escritor e filósofo suíço Peter Bieri), publicado em 2004.
A história traz como personagem central o professor Raimund Gregorius (vivido por Jeremy Irons), suíço de meia-idade que vive uma rotina de aulas, palestras e também de solidão após o fim de um casamento, até ser surpreendido por um evento importante. Por meio deste acontecimento que irrompe sua rotina, o personagem descobre o livro “Um Ourives das Palavras”, do autor português Amadeu Inácio de Almeida Prado (obra fictícia dentro da obra), com o qual se identifica imediatamente, a ponto de fazer Raimund agir impulsivamente, como há anos não fazia, e embarcar em uma jornada rumo a Lisboa, atrás da história da vida de Amadeu. Os eventos contados por Amadeu na “obra dentro da obra” são baseados na real luta da resistência portuguesa contra a ditadura, no início dos anos 70.
A busca investigativa de Raimund abre um leque de reflexões filosóficas sobre a vida, seus caminhos, nossas escolhas e jornadas, tanto as que vivemos quanto as que, pelo acaso ou por uma simples decisão, deixamos de viver. Como dito em outra reflexão memorável do filme: “As horas decisivas da vida, quando a direção dela muda para sempre, nem sempre são marcadas por dramatismos ruidosos. Aliás, os momentos dramáticos das experiências que a alteram são frequentemente muitíssimo discretos.”
Apesar de alguns problemas de ritmo e roteiro, muito por conta da dificuldade em se adaptar para o cinema um livro em que a filosofia é elemento-chave da narrativa, é difícil ficar indiferente ao texto brilhante e ao encontro de histórias apresentadas pelo filme.
A cada fato que Raimund descobre sobre a vida de Amadeu, o professor mergulha em uma luta para resgatar a si mesmo. Essa necessidade de resgate também diz muito sobre nós, espectadores. Raimund é entediante, ele acredita nisso. Todos o fizeram acreditar. Contra isso, a arrogância foi uma de suas defesas. Não se permitir nada que pudesse fazê-lo sofrer mais foi a principal consequência. Amadeu representa toda a intensidade que Raimund não encontrou em vida. Ele crê que na intensidade mora a plenitude, a felicidade. Talvez isso nunca seja encontrado por Raimund. Mas será mesmo que só ter vivido um turbilhão de emoções nos trará paz e orgulho no final da vida? E sobre tentar outra vez: será preciso ser um otimista para se permitir segundas chances? E há tempo certo para vivê-las? O acaso pode se encarregar de tudo, para o bem ou para o mal.
Às vezes, para tudo mudar, só é preciso que alguém nos pergunte: “Por que você não fica?”
Trem Noturno para Lisboa está disponível na Netflix.
E se todo mundo combinasse de trocar aquele textão fenomenal no facebook por pequenos grandes gestos em ambientes com menos plateia? Alguns textões são fundamentais, é fato... Mas e se, ao menos, somássemos a eles algumas atitudes em nosso dia a dia? Contrariando a regra dos 501 caracteres para posts no blog (regra merda), segue uma lista com 5 recomendações da SalaFlita para irmos um pouco além da vaidade estimulada pelas curtidas dos coleguinhas, em nossa luta por um mundo melhor:
Que tal, ao postar sobre sua luta contra a cultura do estupro, você também constranger, escrotizar aquele amiguinho do grupo do whats que te envia vídeos objetificando mulher?
Que tal, para cada 100 postagens mostrando o quanto o planeta é um lugar privilegiado por ter nele um ser humano tão maravilhoso como você, você realizar, ao menos, um único trabalho voluntário que seja?
E se, para cada post reclamando sobre a falta de empatia no mundo, você parasse para ouvir de verdade seu amiguinho, e não entendesse diálogos como disputas onde vence quem tem a maior história de sofrimento e/ou superação pra contar?
Imagine que louco seria se, a cada novo protesto virtual sobre a perda do poder de compra do seu dinheiro ou sobre o quão cruel é a lógica capitalista, você doasse a alguém aquilo que já não utiliza mais, e não insistisse em revendas mesquinhas, por exemplo?
E que tal, então, ao se dizer feminista naquela postagem lacradora, você realmente tentasse agir como tal, não renegando as próprias conquistas e deixando os rumos da sua vida serem conduzidos pelas mãos de um(a) parceiro(a)? Seria bem legal também não ficar por aí vilificando mulheres bonitas ou bem-sucedidas, não rotulando aquelas que têm, como único “defeito”, não se parecerem com você, ou, num olhar mais profundo, odiando aquelas que refletem muito do que você não entende/aceita em si mesma.
Certo! Mas, e a SalaFlita? Também não está postando textão por vaidade? Por mais audiência, likes? O agir de um blog já não é a escrita em si? Mas não poderia ser mais do que isso?
Pessoas de bem se
organizando pra boicotar o filme Aquarius é tipo mobilizar veganos para que
estes não comam carne. Os de bem só veriam Aquarius por engano. Os de bem vão
ao cinema, no máximo, para ver um Avengers ali, um Leandro Hassum acolá, mas
desde que com baldes gigantes de pipoca, muito refri e espiadelas regulares em
seus celulares. E sem Ministério da Cultura, então, as pessoas de bem poderão
dormir tranquilas: a existência de filmes como Aquarius será rara, um ato de
resistência em si.
Toda vez que um filme de super-heróis é lançado, quase como regra, duas
linhas críticas opostas e maniqueístas surgem: uma que logo desdenha, levantando
pontos como “história não é fiel ao HQ”, “nossa, Ryan Affleck não tem nada a
ver com o personagem” ou “o Pedra Azul é todo digital, ficou ruim”; a outra,
que eleva o filme a status de grande obra, “o mais denso até agora”, “o Ryan
Affleck tá foda”, “esse sim é superior a tudo que já rolou”. E tem a Lanterna...
que parece ser verde, não é mesmo?
O ódio nunca esteve tão em alta como forma de posicionamento inteligente
e respeitável, como tentativa de alguém ser marcante em pequenos grupos de
conhecidos por circunstância. São todos críticos e sabem dos seus direitos quando
vociferam contra o café que veio fraco, contra o cadeirante que não era
aleijado o suficiente, contra todo tipo de “vagabundo” que não fica 40 horas
dentro de um escritório com ar condicionado suando a camisa. Que todos possam trocar
seus carros seminovos no fim do ano.
Receber 100 likes tem substituído o sexo ou a falta que faz ouvir um “eu
te amo”. Mais do que isso: quantos hambúrgueres de 30 reais são consumidos, a
cada noite, por gente que nem sabe mais, ou nunca soube como é estar de verdade
com o outro? As relações do mundo moderno estariam, assim, garantindo
longevidade? Bela Gil sugeriria que você pode trocar amor próprio por 100
likes? Os hambúrgueres seriam uma nova forma de empatia para relacionamentos de
sucesso? Eu posso comer seu hambúrguer?
Moon Shaped Pool, 9º disco do Radiohead, ganhou o mundo ontem.
Elaboração, qualidade, minimalismo e arte estão lá. O rock não... mas, o que é
rock mesmo? A galera sensível/conheço as obras do cineasta/tomo chá com
biscoitinhos de quinoa vai achar maravilhoso. E realmente é, mas pra curtir
naquela vibe “Moves like William Waack”. Já parte do restante dos seres vivos
na Terra ligados à música continuarão com a impressão de que o Radiohead sofre de chatice extrema,
maquiada de genialidade criativa.
Título bem merda para 1º post, típico das chamadas de apresentador de
tevê em programa com audiência despencando, quando decidem que é preciso ser
mais "descontraidão". Porém, aqui audiência não é uma preocupação, ela
nem existe. Por isso, a SalaFlita quer ser um espaço aberto para refletir e
afligir, para falar de filme, de som, para rir de tudo e desprezar o próximo
com muito carinho. Bem-vindos!