terça-feira, 14 de junho de 2016

Documentário The Mask You Live In mostra os efeitos devastadores da “cultura do macho”

O que é ser homem para você? Ter poder e dinheiro? Transar com muitas mulheres ao longo da vida ou, então, mentir sobre isso a outros homens? Casar e ter filhos, de preferência homens? Então, ensinar a esses meninos como serem verdadeiros homens?


Mais um documentário fundamental e disponível na netflix, The Mask You Live In, de 2015, fala sobre essas perguntas e vai além, trazendo um panorama sobre a “crise dos meninos” nos EUA e os efeitos devastadores da dita “cultura do macho” para a sociedade. 

Por meio do relato de experiências vividas por crianças, jovens e adultos, e da análise de psicólogos, educadores e estudiosos do assunto, The Mask You Live In conta sobre a perpetuação dos modelos de comportamento e gênero, de como ensinamos nossos meninos a serem homens. “Seja um homem” é classificada por um dos entrevistados como uma das frases mais destrutivas da nossa cultura. Sobre esse contexto, o filme denuncia com veemência a responsabilidade de pais, escolas, da indústria do entretenimento (cultura dos games, das celebridades e da música rap americana como exemplos) e do mundo dos esportes (e seus treinadores, que desde muito cedo, doutrinam meninos à competitividade, violência e repressão de qualquer manifestação de fragilidade). 

Ensina-se já nos primeiros 6 anos de vida, fase em que especialistas apontam como a que mais determina o adulto que seremos, como se deve neutralizar emoções e hierarquizar qualquer tipo de relação pelo domínio e subjugação do outro. Logo no início do filme, isso é exemplificado por um dos educadores entrevistados com a seguinte situação: 
“Entre em qualquer playground dos EUA, onde crianças brincam alegremente. Pergunte a elas ‘Quem é a mulherzinha aqui?’, e dois meninos vão começar a se apontar, ou todos apontarão um único menino, que acabará brigando com todos ou então voltará para a casa chorando.” 


Esse comportamento acaba se perpetuando em uma cultura que estimula insegurança sobre a masculinidade, fazendo com que esta tenha que ser provada o tempo todo. Uma cultura que cria, geração após geração, homens que odeiam mulheres. Homens que, plenamente convictos do que estão fazendo, matam 50 pessoas em uma boate gay. Isso liga o filme, de uma certa maneira, a outro documentário, She’s Beautiful When She’s Angry, que aborda a necessária luta feminista diante dessa cultura que estimula e molda inimigos.

Uma série de casos de bullying, trotes violentos, estupros e assassinatos em massa são citados ao longo do documentário como consequências do que se instituiu ser homem na América. Alcoolismo e abuso de outras drogas são quase institucionalizados como comportamento. O altíssimo índice de tentativas e de suicídios consumados é outro triste dado revelado por The Mask. Meninos que não se encaixam, que sofrem abusos e que são educados para não falar sobre isso acabam interrompendo suas vidas ainda na adolescência. 

Mesmo diante de um cenário devastador, conclui-se The Mask You Live In com olhar otimista, apresentando uma série de iniciativas e projetos de educadores que estão combatendo esse aspecto cultural tão enraizado, estimulando diálogo, compartilhamento de experiências e a livre expressão entre homens, desde quando crianças até a idade adulta. 

O filme também cobra a responsabilidade de cada um de nós em expandir o que é ser homem, tanto para nós mesmos, quanto para os meninos que estamos criando. Não agir sobre isso e, ainda por cima, minimizar a dor do outro, nos torna, de alguma forma, cúmplices de massacres como os de Orlando, e dos abusos, estupros e suicídios de cada dia.

Classificação: 3 / 5

quarta-feira, 8 de junho de 2016

She's Beautiful When She's Angry é documentário para entender o Feminismo

Daqueles filmes mais relevantes pela urgência do tema do que pela qualidade cinematográfica em si, She’s Beautiful When She’s Angry, de 2014, é um documentário que conta a história de luta das feministas nos EUA dos anos 60 e 70.



Por meio de depoimentos de várias mulheres responsáveis pelo momento mais efervescente dos movimentos de liberação feminina, o filme revela como essa luta foi responsável por transformar o mundo, com conquistas que, muitas vezes, em nossa santa ignorância, não fazemos ideia de que só existem até hoje graças à radicalização da luta, graças a essas mulheres que viveram a causa em completa entrega.

Há vários trechos relevantes de discursos e reflexões. Porém, o filme perde um pouco de sua força dramática ao preferir ser um grande painel, escolhendo narrar os fatos por muitos olhares (o que é louvável em um documentário), mas deixando de se aprofundar nas histórias pessoais das personagens. Talvez essa escolha tenha a ver com o fato de que, realmente, a causa feminista é, em si, a grande personagem da história.

É interessante observar, também, como esse movimento foi rechaçado, inclusive, pelos homens que lutavam ao lado das mesmas mulheres nas causas de esquerda. Ao falarem por si mesmas, tomando a frente dos discursos, foram hostilizadas, ameaçadas de estupro e morte. 

Outro ponto importante abordado pelo documentário são os conflitos gerados pelo desafio de se agregar, dentro de uma causa ampla, suas importantes particularidades: as necessidades das mulheres negras e das lésbicas feministas, por exemplo, dentro de um grande movimento.



O documentário causa impacto ao revelar que, ao mesmo tempo em que se lutava pelo direito à assistência de saúde, a métodos contraceptivos e à legalização do aborto, havia um terço da população feminina de Porto Rico sendo esterilizada. Para carolas, coxinhas e machistas que costumam cagar opinião sobre o movimento, entender que essas mesmas mulheres também lutavam pelo direito à maternidade é um belo tapa na cara.

Durantes os depoimentos, as palavras ódio e fúria são repetidas inúmeras vezes, reforçando que tudo o que foi conquistado não existiria sem esses sentimentos e que, em uma sociedade sufocantemente patriarcal, nada viria por meio de atos pacifistas e suas pombas brancas. Foi preciso desafiar, expor, mobilizar, fazer greve e lutar.

O filme também lembra a todos que essa luta deve ser contínua, que o atual retrocesso visto nas legislações de diversos países mostra que um direito conquistado sempre pode ser tomado de volta. Em tempos bicudos como os de hoje, com casos cada vez mais revoltantes de misoginia, abuso e violência, entender o feminismo para apoiar suas causas ou, pelo menos, não sair falando besteira em rede social, é urgente. Para isso, assistir à She’s Beautiful When She’s Angry é um belo primeiro passo.

O filme está disponível na netflix.

Classificação: 3 / 5

quinta-feira, 2 de junho de 2016

3 novas mulheres no rock que você precisa ouvir

Deap Vally, duo americano em ação.

Talvez você conheça a nova da Ariana Grande, acredita que a Adele mais uma vez impressionou (mas tem medo de que o próximo álbum seja outra repetição, mais um de seus belos muros de lamentações) e sabe que o disco da Beyoncé vai estar na lista de melhores do ano de meio mundo de publicações. Todas elas têm grandes méritos, é inegável. Mas a SalaFlita vem, por meio dest post, sugerir que você conheça um outro tipo de cantora: aquelas meninas que, desde muito cedo, abraçaram uma guitarra e, hoje, são alguns dos nomes mais interessantes e promissores do rock’n’roll, aquele rock com ruído e distorção, o tipo de som que não depende de rótulos como “diva”, nem leva álbuns aos mais vendidos da Billboard (um dia levou, lá no início dos anos 90). Se já não conhece, preste atenção nestes 3 novos nomes femininos do rock:

Courtney Barnett

Fenômeno vindo da Austrália, Courtney chamou a atenção internacional na música em 2015, com o lançamento de seu primeiro disco, Sometimes I Sit and Think, And Sometimes I Just Sit, isso após ter feito parte de algumas bandas na Austrália, como guitarrista, e também após o lançamento de 2 EPs já como artista solo. Courtney faz um som low-fi, distorcido, com letras autocríticas e também sobre assuntos mundanos. Anda tocando nos principais festivais do mundo, e tem show marcado para novembro no Brasil. Ótimas canções, despojamento e o olhar perdidão vêm fazendo muita gente compará-la a Kurt Cobain... SalaFlita acha que não é pra tanto, mas tem ouvido muito esse som. Melhor você conferir e tirar suas conclusões.



Deap Vally

Duo americano formado por Lindsey Troy e Julie Edwards (opa, então o post deveria ser “4 novas minas no rock...”). Erros de soma à parte, o Deap Vally faz um som com pegada de blues e rock alternativo. Lembra um pouco Kills, White Stripes, com vocal da Peaches... tem, até agora, um álbum de estúdio, Sistrionix, de 2013. Som bacanudo, recomendadíssimo.



Ellie Rowsell (Wolf Alice)

Ellie Rowsell está à frente da Wolf Alice, bandinha norte-americana bem maneira de indie rock noventista, bem mais sujo ao vivo do que nos discos. Ellie é guitarrista, vocalista e compositora da Wolf, que já tem lançado dois EPs: Blush EP e Creature Songs; e um disco cheio, My Love is Cool, de 2015. Dá um play no link abaixo pra conferir o som da banda.



Se você gostou de Courtney Barnett, Deap Vally e Wolf Alice, também vai gostar de: Tiago Iorc (brincadeira).