terça-feira, 31 de maio de 2016

Trem Noturno para Lisboa (2013) - Uma Resenha

Se é verdade que apenas podemos viver uma pequena parte daquilo que há dentro de nós, o que acontece com todo o resto?”. Esta é uma das primeiras frases do filme Trem Noturno para Lisboa, de 2013, adaptado do best-seller homônimo de Pascal Mercier (pseudônimo do escritor e filósofo suíço Peter Bieri), publicado em 2004.


A história traz como personagem central o professor Raimund Gregorius (vivido por Jeremy Irons), suíço de meia-idade que vive uma rotina de aulas, palestras e também de solidão após o fim de um casamento, até ser surpreendido por um evento importante. Por meio deste acontecimento que irrompe sua rotina, o personagem descobre o livro “Um Ourives das Palavras”, do autor português Amadeu Inácio de Almeida Prado (obra fictícia dentro da obra), com o qual se identifica imediatamente, a ponto de fazer Raimund agir impulsivamente, como há anos não fazia, e embarcar em uma jornada rumo a Lisboa, atrás da história da vida de Amadeu. Os eventos contados por Amadeu na “obra dentro da obra” são baseados na real luta da resistência portuguesa contra a ditadura, no início dos anos 70.

A busca investigativa de Raimund abre um leque de reflexões filosóficas sobre a vida, seus caminhos, nossas escolhas e jornadas, tanto as que vivemos quanto as que, pelo acaso ou por uma simples decisão, deixamos de viver. Como dito em outra reflexão memorável do filme: “As horas decisivas da vida, quando a direção dela muda para sempre, nem sempre são marcadas por dramatismos ruidosos. Aliás, os momentos dramáticos das experiências que a alteram são frequentemente muitíssimo discretos.

Apesar de alguns problemas de ritmo e roteiro, muito por conta da dificuldade em se adaptar para o cinema um livro em que a filosofia é elemento-chave da narrativa, é difícil ficar indiferente ao texto brilhante e ao encontro de histórias apresentadas pelo filme.

A cada fato que Raimund descobre sobre a vida de Amadeu, o professor mergulha em uma luta para resgatar a si mesmo. Essa necessidade de resgate também diz muito sobre nós, espectadores. Raimund é entediante, ele acredita nisso. Todos o fizeram acreditar. Contra isso, a arrogância foi uma de suas defesas. Não se permitir nada que pudesse fazê-lo sofrer mais foi a principal consequência. Amadeu representa toda a intensidade que Raimund não encontrou em vida. Ele crê que na intensidade mora a plenitude, a felicidade. Talvez isso nunca seja encontrado por Raimund. Mas será mesmo que só ter vivido um turbilhão de emoções nos trará paz e orgulho no final da vida? E sobre tentar outra vez: será preciso ser um otimista para se permitir segundas chances? E há tempo certo para vivê-las? O acaso pode se encarregar de tudo, para o bem ou para o mal.

Às vezes, para tudo mudar, só é preciso que alguém nos pergunte: “Por que você não fica?

Trem Noturno para Lisboa está disponível na Netflix.

Classificação: 4 / 5

sábado, 28 de maio de 2016

E se somássemos pequenas grandes atitudes ao nosso textão "caça like"?

E se todo mundo combinasse de trocar aquele textão fenomenal no facebook por pequenos grandes gestos em ambientes com menos plateia? Alguns textões são fundamentais, é fato... Mas e se, ao menos, somássemos a eles algumas atitudes em nosso dia a dia? Contrariando a regra dos 501 caracteres para posts no blog (regra merda), segue uma lista com 5 recomendações da SalaFlita para irmos um pouco além da vaidade estimulada pelas curtidas dos coleguinhas, em nossa luta por um mundo melhor:


  • Que tal, ao postar sobre sua luta contra a cultura do estupro, você também constranger, escrotizar aquele amiguinho do grupo do whats que te envia vídeos objetificando mulher? 
  • Que tal, para cada 100 postagens mostrando o quanto o planeta é um lugar privilegiado por ter nele um ser humano tão maravilhoso como você, você realizar, ao menos, um único trabalho voluntário que seja? 
  • E se, para cada post reclamando sobre a falta de empatia no mundo, você parasse para ouvir de verdade seu amiguinho, e não entendesse diálogos como disputas onde vence quem tem a maior história de sofrimento e/ou superação pra contar? 
  • Imagine que louco seria se, a cada novo protesto virtual sobre a perda do poder de compra do seu dinheiro ou sobre o quão cruel é a lógica capitalista, você doasse a alguém aquilo que já não utiliza mais, e não insistisse em revendas mesquinhas, por exemplo? 
  • E que tal, então, ao se dizer feminista naquela postagem lacradora, você realmente tentasse agir como tal, não renegando as próprias conquistas e deixando os rumos da sua vida serem conduzidos pelas mãos de um(a) parceiro(a)? Seria bem legal também não ficar por aí vilificando mulheres bonitas ou bem-sucedidas, não rotulando aquelas que têm, como único “defeito”, não se parecerem com você, ou, num olhar mais profundo, odiando aquelas que refletem muito do que você não entende/aceita em si mesma. 
Certo! Mas, e a SalaFlita? Também não está postando textão por vaidade? Por mais audiência, likes? O agir de um blog já não é a escrita em si? Mas não poderia ser mais do que isso?

Humm...

quarta-feira, 18 de maio de 2016

Pessoas de bem boicotando o filme Aquarius. Faz sentido?

Pessoas de bem se organizando pra boicotar o filme Aquarius é tipo mobilizar veganos para que estes não comam carne. Os de bem só veriam Aquarius por engano. Os de bem vão ao cinema, no máximo, para ver um Avengers ali, um Leandro Hassum acolá, mas desde que com baldes gigantes de pipoca, muito refri e espiadelas regulares em seus celulares. E sem Ministério da Cultura, então, as pessoas de bem poderão dormir tranquilas: a existência de filmes como Aquarius será rara, um ato de resistência em si.

Foto:  EFE

sexta-feira, 13 de maio de 2016

Ah, então manjas de filmes
de super-heróis?

Toda vez que um filme de super-heróis é lançado, quase como regra, duas linhas críticas opostas e maniqueístas surgem: uma que logo desdenha, levantando pontos como “história não é fiel ao HQ”, “nossa, Ryan Affleck não tem nada a ver com o personagem” ou “o Pedra Azul é todo digital, ficou ruim”; a outra, que eleva o filme a status de grande obra, “o mais denso até agora”, “o Ryan Affleck tá foda”, “esse sim é superior a tudo que já rolou”. E tem a Lanterna... que parece ser verde, não é mesmo?


segunda-feira, 9 de maio de 2016

O ódio e os seminovos

O ódio nunca esteve tão em alta como forma de posicionamento inteligente e respeitável, como tentativa de alguém ser marcante em pequenos grupos de conhecidos por circunstância. São todos críticos e sabem dos seus direitos quando vociferam contra o café que veio fraco, contra o cadeirante que não era aleijado o suficiente, contra todo tipo de “vagabundo” que não fica 40 horas dentro de um escritório com ar condicionado suando a camisa. Que todos possam trocar seus carros seminovos no fim do ano.


Entre likes e hambúrgueres

Receber 100 likes tem substituído o sexo ou a falta que faz ouvir um “eu te amo”. Mais do que isso: quantos hambúrgueres de 30 reais são consumidos, a cada noite, por gente que nem sabe mais, ou nunca soube como é estar de verdade com o outro? As relações do mundo moderno estariam, assim, garantindo longevidade? Bela Gil sugeriria que você pode trocar amor próprio por 100 likes? Os hambúrgueres seriam uma nova forma de empatia para relacionamentos de sucesso? Eu posso comer seu hambúrguer?


Novo disco do Radiohead

Moon Shaped Pool, 9º disco do Radiohead, ganhou o mundo ontem. Elaboração, qualidade, minimalismo e arte estão lá. O rock não... mas, o que é rock mesmo? A galera sensível/conheço as obras do cineasta/tomo chá com biscoitinhos de quinoa vai achar maravilhoso. E realmente é, mas pra curtir naquela vibe “Moves like William Waack”. Já parte do restante dos seres vivos na Terra ligados à música continuarão com a impressão de que o Radiohead sofre de chatice extrema, maquiada de genialidade criativa. 



domingo, 8 de maio de 2016

SalaFlita na área, galera!

Título bem merda para 1º post, típico das chamadas de apresentador de tevê em programa com audiência despencando, quando decidem que é preciso ser mais "descontraidão". Porém, aqui audiência não é uma preocupação, ela nem existe. Por isso, a SalaFlita quer ser um espaço aberto para refletir e afligir, para falar de filme, de som, para rir de tudo e desprezar o próximo com muito carinho. Bem-vindos!